A nossa sociedade ocidental herdou e
cimentou-se sobre uma noção de desenvolvimento economicista que se
impôs desde a Revolução industrial no século XVIII e manteve-se
alheia aos impactos e consequências nocivas que provocou nas
pessoas, ao favorecer as graves cisões sociais, servindo sempre os
detentores de poder económico e os interesses e conveniências dos
políticos a ela atreitos. Porém, ante tamanha insustentabilidade,
que deteriorou as relações humanas e pôs sob risco todo o sistema
ambiental e toda a sua biodiversidade, o século XXI traz-nos novos
desafios e apela-nos à emergência de uma consciência nova contra o
niilismo, a indiferença, a desigualdade, a corrupção, a destruição
e a desumanidade financiada pelos lobbies políticos e de mercado. O
mundo ocidental herdou da Modernidade categorias de pensamento que
nos conduziram a uma sistematização de valores em que o ter é
sobreposto ao ser, a eficiência produtiva é sobreposta à
eficiência social ou cultural, a quantidade é sobreposta a
qualidade, a Razão é sobreposta à emotividade e ao saber intuitivo
e a homogeneidade é sobreposta à multiculturalidade e à
diversidade.
O conceito de fraternidade será aqui
trabalhado na medida em que entendemos que os projectos de economia
solidária, nomeadamente no âmbito da área do desenvolvimento
local, são concretizados sob uma lógica de fraternidade e de
afecto. A lógica do lucro, a finalidade de acumulação, perde-se
neste espaço para dar preponderância aos valores de troca,
cooperação e bem-estar, não adveniente do jogo oferta-procura do
mercado, mas da predisposição das pessoas para fraternizarem e
criarem laços de entreajuda fiáveis. Quanto mais sincera for a
capacidade de confiar, melhores relações de fraternidade serão
criadas e logo, haverá uma maior predisposição para o
desenvolvimento de projectos de habilitação estrutural a partir de
iniciativas para o desenvolvimento local. A fraternidade, terceira
máxima da Revolução francesa, concretiza, finalmente, a sua
expressão prática e objectiva nas experiências de economia
solidária, rumo a uma experiência de humanização da economia.