Um sonho de poetas? Uma poesis esperada...


UM DESÍGNIO UNIVERSAL PORTUGUÊS


O início da cultura mística portuguesa, na sua vertente teleo-escatológica, como é muitas vezes designada, remonta à antiga Lusitânia, em tempos em que a Hispânia estava dividida ainda em várias circunscrições políticas romanas, sendo, portanto, anterior à  conquista e à fundação de Portugal.

Embora, seja ainda prematuro atribuir a denominação de Cultura Portuguesa a esta época tão anterior à fundação de Portugal, o facto é que  se sentia, desde-já, aqui, neste perímetro Ocidental da Península Ibérica e da Europa, uma aura própria, diria, o prenúncio de um paradigma profundo que parecia exortar à superação do pragmatismo inerte e a uma necessidade de abertura ao Infinito, ao Universalismo e à Transcendência.

É neste encalço, na senda da conquista do Graal e da conquista de uma terra espiritual, universal, aberta ao misticismo gnóstico, que se começa a delinear a obra de D. Afonso Henriques, apoiado pelas Ordens cristãs como os Cistercienses e os Cavaleiros do Templo, na empresa de fundar uma terra com um desígnio espiritual maior, radicado sobre a sabedoria hermética dos cavaleiros da Ordem do Templo com a qual  D. Afonso Henriques tinha uma relação de estrita proximidade, nomeadamente, com Gualdim Paes. o sétimo responsável pela Ordem, em Portugal.

Nos séculos XIII-XIV, durante o reinado de D. Dinis o ideário de uma Terra do Espírito Santo, na Terra, ganhou uma projeção prática exemplar que fez de Portugal um dos países mais abertos e inovadores da Europa daquele tempo; um projeto para o qual, a obra da Rainha Santa Isabel foi fundamental. A Rainha Santa que trouxe para Portugal os Franciscanos que, sediados em Alenquer, no Convento de S. Francisco, introduziram, em Portugal, um olhar renovado da mensagem cristã, animado por um espírito aberto, universal e místico: um elo entre o mundo empírico, a natureza, e o Infinito que espiritualmente sustenta o paradigma de uma organização política verdadeiramente livre, democrática, socialmente participativa, próxima do Rei, e de uma economia cooperativa, de entreajuda  como de uma educação livre e criativa, afastada de conceitos fechados e estereotipados. 

Portugal aliava o conhecimento científico à sabedoria esotérica, a liberdade à generosidade, o espírito inventivo e criativo à ambição de levar este projeto de vida ao mundo, fundando comunidades do Espírito Santo pela Terra fora. E, neste sonho, partilhando a vontade de uma Terra melhor, embarcaram  gentes de origens e confissões diferentes, templários, judeus, cristãos portugueses e todos aqueles que acreditaram na expansão marítima portuguesa como um canal de recriação e de fundação de novos lugares que  experienciassem relações universais e fraternas, lugares onde todos, independentemente dos seus credos ou origens, vivessem em paz e partilha. O sonho deixa as suas marcas e é hoje testemunhado a partir das festas do Espírito Santo, cultuadas em vários lugares de Portugal continental, mas também nos Açores e em vários lugares do Brasil, afirmando a crença e celebrando um passado que pode ser revivido, haja vontade, espírito e ações  concertadas, em fraternidade. para o restituir.


Queremos contribuir para a construção de uma Terra e de um país mais justos e livres, procurando aqui reunir e dar a conhecer os esforços de todos aqueles que acreditam e agem para a concretização de uma sociedade de economia cooperativa, solidária e de entreajuda, sustentável e integrada no todo maior que é o ciclo vivo dos animais e das plantas, animada por espíritos com iniciativa, empreendedores, que encontram no laço fraterno para com a Vida a resposta para os desafios do mundo e para a sua própria felicidade.


É a hora que tanto clamou Fernando Pessoa para cumprir a obra que, a partir de cada  acão, poderá inspirar o mundo …