A ideia que aqui relanço nasce do sonho de uma Terra
universal, uma terra una e sentidamente circular e unida num abraço
transcultural e geracional que a todos acolhe e reconhece numa relação de
igualdade, liberdade, agraciada pelo autêntico sentido de respeito e de amor
fraterno mútuo.
Uma terra que é circular pelo seu formato físico, mas,
e muito para além disso, que o pudesse ser também naquilo que a simbologia do
círculo encerra, numa coesão, partilha, união e unidade do ser. Conceber uma
Terra circular, é conceber um espaço de relações e de interações sociais que
tendam à partilha, à cooperatividade e à liberdade, evitando modelos
tendenciosos, egoístas, centralizadores, parciais que incutem a exclusão,
privilegiam o massificado e não reconhecem a complementaridade que está na
diferença e a felicidade, como o poder curativo, que se encontra em cada gesto
de abertura ao outro, em cada ação de generosidade, em cada passo em direção a
nós próprios, quando desarmados de pré-conceitos, medos e de racionalidade, buscamos
o que está lá, esquecido mas guardado, no fundo do coração. É neste ponto que
descobrimos tesouros e respostas de que nunca fizemos ideia e, então, sentimos
que vale a pena e que nos aproximámos do sentido que nos chama para a vida.
Propomos uma sociedade que acredita que o indivíduo, a
comunidade e a ecologia possam ocupar um lugar de equidade na balança dos
interesses gerais.
As organizações políticas que privilegiam o interesse
e a liberdade do indivíduo, descuidando do todo comunitário e /ou social, caem,
inevitavelmente, em individualismo, solidão, abandono, promovendo um sistema,
que como tão bem conhecemos, se alimenta da sorte individual, das conveniências
e interesses pessoais ignorando, ignóbil e propositadamente, o espaço ambiental
e o todo social, os cidadãos, que não lograram da mesma sorte interesseira e
dos mesmos lobbies, e que veem,
assim, inibidas ou cortadas a sua possibilidade de se expressar, criar e de
viver num mundo que se revela crescentemente insustentável a vários níveis: a
isto designaria por antropocentrismo cego e irresponsável.
As sociedade organizadas de modo a privilegiar o
interesse comum e comunitário, propondo-se corrigir a situação descrita acima e
a ação desenfreada levada pelo individualismo irresponsável, incorrem, contudo,
no excesso de secundarizar ou asfixiar a iniciativa criativa e livre de cada
indivíduo, de negar o fogo de vida e o nosso poder de ação livre, a nossa
capacidade de pensar e de conhecer, tornando os indivíduos despersonalizados,
sem eu, mortificados na sua identidade em prol de um eu de conjunto, formado
para servir o interesse geral, e a subserviência a quem, sub-repticiamente,
comanda o sistema.
Se projetarmos uma sociedade que privilegie, por sua
vez, não o indivíduo nem a comunidade, mas tão-só as causas ecológicas
cair-se-á naturalmente em possíveis excessos em relação ao espaço ocupado pelo
homem e às suas ações.
Pensamos num mundo onde o indivíduo, a comunidade e o
ambiente sejam três causas de igual valor, cada uma exercendo a sua função de
complementaridade! Pois só, quando consideradas em conjunto, poderão contribuir
de forma equilibrada, sem se deixar tender para os excessos indicados pelo
vértice da sua hipotética primazia, para um mundo mais saudável, com capacidade
de dialogar, reflectir e ponderar, capaz de superar os problemas, dificuldades
sociais e éticas em que, hoje, naufragámos.
A transformação é possível, e já está sendo, a partir
da vontade conjunta de cada um de nós e da criação, cada vez em maior número,
de pequenos espaços, comunidades e de novas formas de vida e de partilha e de cooperação,
que tenham como valor primordial, a entreajuda cívica: espaços de respeito por
si próprio, pelo outro, pela Terra, que nos sustém, e pela universalidade de
valores, dos ritmos e do pulsar de cada um de nós pelo Todo.